“RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIEMTAL E O LUCRO ANDAM JUNTOS”

Passados alguns anos e meses, focamos as nossas reflexões nos eventos ocorridos com as barragens que as empresas controladas pela Cia. Vale do Rio Doce (Vale) mantinham nos Municípios de Mariana (05.11.2015) e Brumadinho (25.01.2019), no Estado de Minas Gerais. Essas barragens romperam-se, provocando mortes e desaparecimento de pessoas, além de deixar uma enxurrada de lama que devastou terras produtivas e rios, atingido inclusive as águas do Rio São Francisco. A repercussão destes desastres socioambientais é de valor incalculável. No dia a dia das companhias, são muitos os interesses dos acionistas e de terceiros. Dos acionistas, a expectativa principal é pela obtenção de lucros. Dos terceiros, clientes e consumidores, pela qualidade dos serviços prestados e dos produtos entregues. Dos fornecedores pelo pagamento em dia e pelo recebimento dos materiais adquiridos. Dos funcionários, por meio das demandas diárias, e pela atenção ao processo produtivo, para evitar que não ocorra perda. Independentemente dos interesses envolvidos na atividade empresarial, das repercussões financeiras e contábil nas empresas e das reparações dos danos ambientais e socais causados a serem estabelecidas, temos que repensar o tipo de sociedade que queremos. É importante gerenciar o lucro das companhias e, consequentemente, os dividendos a serem pagos aos acionistas. Mas temos que pensar, também, nos impactos sociais e ambientais, resultantes da atividade empresarial. Não podemos fazer o básico da gestão, arriscando vidas e a biosfera, por um lucro maior e mais rápido, sem esquecer dos rios, das plantas e dos animais, que estão sendo afetados pelas decisões diárias erradas e que causam tragédias socais e ambientais. As responsabilidades precisam ser apuradas e as autoridades competentes devem tomar as providências necessárias para evitar novos desastres ambientais. Mas só isso não basta. As duas tragédias da Vale mostram que o conceito de sucesso empresarial precisa ser revisto. As companhias de sucesso devem rever o seu propósito empresarial, que vai além do resultado financeiro e da distribuição de dividendos, na busca de valor duradouro para todos os stakeholders. A responsabilidade socioambiental é tão importante quanto o lucro. Por isso, é necessário repensar na Governança Corporativa, no que se refere a gestão de riscos. Sabemos que correr riscos faz parte da atividade produtiva. Mas não basta ter consciência dos riscos. É preciso controlá-los. Sabemos que o setor de mineração é muito importante para o progresso do País, pois trazem bilhões de reais em divisas e geram muitos empregos. Mas isso não significa que a sua sustentabilidade social e ambiental pode ser relegada em segundo plano. Esse segmento traz impactos ao meio ambiente e, principalmente, nas comunidades que habitam e/ou trabalham próximos de barragens e de locais inseguros. Finalizando, é preciso serenidade, por parte dos administradores e dos governantes. A responsabilidade socioambiental dos gestores deve andar junta a busca pelo lucro, passando pela efetiva ação diária do tripé da sustentabilidade empresarial focada, nos três itens básicos que são; o ambiente, o social e o financeiro.

Cláudio Sá Leitão e Geraldo Ribeiro – Conselheiro pelo IBGC e Sócio da Sá Leitão Auditores e Consultores.

PUBLICADO NO JORNAL DIARIO DE PERNAMBUCO EM 17.05.2019