“PROCESSO DE GOVERNANÇA É LENTO”

Nas últimas duas décadas, empresas brasileiras preocupadas com sua imagem e reputação tomaram a iniciativa de incluir a “Governança Corporativa (GC)” na sua estratégia. A adoção da prática de transparência de informações e de ética na condução dos seus negócios, passou a ser a base da gestão dessas empresas. A GC é uma condição para o sucesso e sobrevivência empresarial no mundo dos negócios. Independentemente da prática da GC ser uma imposição legal para alguns tipos de empresas, ela vem sendo cada vez mais adotada, em razão da segurança conferida aos investidores e, por isto, integra a gestão dos negócios. Seus princípios adquiriram força de lei, de forma que as empresas que desejassem negociar suas ações viram-se obrigadas a observar tais práticas. Para a maioria dos sócios controladores, implantar a “GC” ainda significa simplesmente criar um conselho de administração, um conselho fiscal e contratar uma empresa de auditoria independente. A mudança desse conceito depende principalmente da consciência e da cultura empresarial. Consciência de que a “GC” trata-se de um conjunto de regras e de princípios que visam o desenvolvimento das relações internas e externas da empresa (entre sócios, administradores, auditores e outras partes interessadas), bem como a preservação e a perpetuação do empreendimento, afastando interesses pessoais que possam prejudicar o andamento dos negócios. Em cada um desses ambientes/foros está presente o conjunto de “DOR” (Direitos, Obrigações e Responsabilidade), os quais para serem exercidos, requerem capacitação e perfil específicos, além de regramento, processo de execução e decisão, entre outros. Isso só é possível com a prática dos princípios gerais de “GC” em todas as estâncias: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Em relação ao aspecto da cultura empresarial, ainda há àquele entendimento de que o sócio majoritário é quem dita as regras, não ouvindo ninguém e nem se importando quem está ao seu redor. Geralmente é um self made man que construiu um complexo empresarial à custa de muito sangue, suor e lágrimas. Atualmente os stakeholders estão mais atentos e exigentes. Essa condição impõe às empresas mudanças não só de estratégias e de implantação de novas ferramentas de controle, mas de cultura em relação ao correto. Muitas transformações precisam ser realizadas, sob pena de ficarem expostas aos riscos de irregularidades. Por isso, o processo de GC torna-se lento dentro das empresas. Adquirir consciência, mudar a cultura e adotar boas práticas de GC, traz credibilidade e atrai investidores, bem como possibilitam uma redução nos casos de desvios de conduta e de irregularidades.

Cláudio Sá Leitão - Conselheiro pelo IBGC e Sócio da Sá Leitão Auditores e Consultores.

PUBLICADO NO JORNAL DO COMMERCIO EM 22.12.2018