“DESAFIOS DO NOVO PRESIDENTE”
Tivemos o 1o turno das eleições no
último dia 07 e uma das marcas foi a importante renovação no quadro dos
congressistas. Políticos tradicionais perderam mandatos e partidos importantes
viram suas bancadas encolherem. Essa renovação teve como pano de fundo, desde a
reinvindicação por melhorias nos serviços públicos, chegando nas manifestações
de repúdio à corrupção. De um lado, o desejo de renovação e do outro, um
aparente sentimento de vingança contra caciques incrustados em Brasília há
décadas. No próximo domingo (28), teremos o 2o turno e
escolheremos o novo Presidente do Brasil, para os próximos quatro anos. O
candidato Bolsonaro foi quem se apresentou para o eleitorado com um discurso
hipotético de mudança. Ele soube explorar as redes sociais, as quais se
mostraram essenciais para manter a fidelidade dos eleitores. A sua imagem de “antipetismo”
foi o motor que impulsionou sua campanha, mesmo com seu pouco tempo de
televisão. Como passou a maior parte do tempo no hospital e em casa, esta
eleição poderá ser vencida por um candidato praticamente virtual. Não é de hoje
que o sentimento predominante do povo brasileiro se traduz em desencanto, em decepção
e em insatisfação com a classe política e com a qualidade dos serviços públicos
em termos de saúde, educação e segurança e no combate a corrupção. Há um
horizonte de dificuldades pela frente, haja vista a penúria em que os estados
vivem, em face de grave crise fiscal e econômica, onde enfrentam um quadro de
desiquilíbrio das contas públicas com despesas crescentes, apenas para manter a
estrutura funcionando. Os estados do nordeste sofrem ainda mais na recessão,
pois o peso do setor público na economia é importante. As obras de
infraestruturas estão paralisadas e os dois principais setores que puxam o
crescimento do mercado de trabalho (construção civil e comércio) não estão se
recuperando. O candidato vencedor terá que promover um ajuste fiscal forte, com
uma reforma justa da previdência e redução da máquina pública, conduzindo bem a
economia para proporcionar maior força à iniciativa privada, além de demonstrar
ser um bom articulador junto às classes empresarial e política e ao poder
judiciário. Caso o candidato melhor posicionado nas pesquisas seja eleito, um
dos seus grandes desafios será o de transformar as propostas formuladas na
campanha, em realidade. Isso vai depender muito de sua capacidade de diálogo e
negociação com os membros integrantes do Congresso. Sem falar na tarefa de
derrubar a desconfiança quanto a um possível comportamento autoritário e
refratário aos direitos humanos. Como um dos seus discursos de campanha versa
sobre a não distribuição de cargos e verbas para maximizar a base de apoio, certamente
ele terá dificuldade no encaminhamento das propostas, o que consequentemente
atrasará as reformas. Sem considerar que terá que negociar com vários
governadores que se situam do centro para esquerda e se desdobrar por não ter
maioria no Senado e na Câmara. Por fim, para garantir a governabilidade a longo
prazo deverá ter a capacidade para enfrentar os desafios do presente, construindo
um futuro melhor para o povo brasileiro.
Cláudio Sá Leitão e Luís Henrique Cunha - Conselheiro pelo IBGC e Sócio da Sá Leitão Auditores e Consultores.
PUBLICADO NO JORNAL DIARIO DE PERNAMBUCO EM 23.10.2018 E NO JORNAL DCI EM 24.10.2018.