“PERPETUAÇÃO DO PATRIMÔNIO FAMILIAR”
Administrar um patrimônio
familiar é o maior desafio para as atuais e próximas gerações. Construir um
patrimônio não é o mesmo que mantê-lo. Muitos dos hábitos adotados para
aumentar o patrimônio, não são os mais indicados para quem deseja preservá-los
e transmiti-los para os seus descendentes. O fundador deseja não só que patrimônio
perpetue, mas que os seus familiares sejam bem-sucedidos. O aspecto financeiro
é importante para esse sucesso, mas sem esquecer de preservar os laços
afetivos, educar e preparar as gerações futuras e mediar a interação entre seus
familiares com a empresa. Mas há alguns obstáculos à perpetuação do patrimônio,
quando as vontades de seus integrantes são conflitantes com as necessidades do
negócio. O primeiro aspecto é a dedicação aos negócios familiares. A geração
que funda, dedica uma boa parte de sua vida à empresa. Por sua vez, a empresa
cresce ao seu jeito e o resultado ocorre da sua forma. A segunda geração escuta
as histórias e visita a empresa desde a infância, se familiariza, mas a
dedicação tende a ser menor do que a de seus pais. A terceira geração nasce em
outra realidade. Teve a oportunidade de estudar no exterior e de conhecer um
mundo de possibilidades, fora do ambiente familiar. Tem outros interesses e,
por isto, tende a diminuir ainda mais a dedicação aos negócios fundado pelo seu
avô. A quarta em diante, segue nessa mesma tendência. A redução a risco é o
segundo aspecto. Os herdeiros são mais prudentes e investem em projetos de
médio retorno e de baixa volatilidade. Sob essa ótica, é natural que as novas
gerações queiram diversificar ativos familiares, reduzindo a importância da
empresa no patrimônio como um todo. Outro aspecto é o receio de um fracasso,
diante de uma trajetória de sucesso. Como os fundadores foram bem-sucedidos, se
destacando no mercado em que atua, os herdeiros são mais cautelosos, tomando
atitudes defensivas para evitar qualquer resultado negativo à imagem da família
e à história de sucesso nos negócios. As famílias com grande patrimônio são
cautelosas. Encontrar o equilíbrio entre as posições moderadas e ousadas para
preservar ou expandir o patrimônio é indispensável para a continuidade do
sucesso familiar. O padrão de vida também é importante. Os herdeiros já nascem
em situação de conforto e com um leque de oportunidades e de escolhas. Mas o
problema surge, quando a busca pelo conforto e o status leva à negligência ou
os gastos se tornam superiores ao rendimento do patrimônio. Sem esforço de
preservação dos valores familiares e educação financeira adequada, é difícil
convencer os herdeiros a adequar o seu estilo de vida as características do
patrimônio e sua sustentabilidade de longo prazo. Há, ainda, o tamanho da
família – são dois itens. O primeiro é que a família cresce mais rápido do que
os negócios. O segundo é a dificuldade de manter unida uma família mais heterogênea.
Esses obstáculos se cruzam, quando os membros da família necessitam retirar
recursos para investir em novos projetos pessoais e, por outro lado, a empresa precisa
de investimentos para capital de giro e expansão. Sem considerar que, para perpetuar
ou expandir o patrimônio, é essencial a família
manter dedicação aos negócios, os investimentos e tomar decisões que
podem ter risco, além de controlar os gastos excessivos com um estilo de vida
insustentável, de forma a obter o crescimento patrimonial que se faça necessário
aos objetivos familiares ao longo das gerações.
Cláudio José Sá Leitão – Sócio da Sá Leitão Auditores e Consultores.
PUBLICADO NO JORNAL FOLHA DE PERNAMBUCO EM 11.04.2018