“CONSELHEIRO NÃO É EXECUTIVO”
A explosão na adoção dos conselhos
nos últimos anos, seja em empresas privadas ou em listadas em bolsas, pode se
dizer que teve início a partir da criação do Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa - IBGC, em 27.11.1995. Esses conselhos tiveram sua origem, principalmente,
em sociedades familiares, onde os fundadores e os presidentes das empresas se
utilizam da nova estrutura de governança, para ficarem mais perto do que ajudaram
a construir e prosperar. Como grande parte dos conselheiros até recentemente
eram executivos, eles ainda estão tomando conhecimento das suas novas funções. Os
cursos de conselheiro de administração os ajudam a exerceram essas atribuições,
mas não são suficientes para promover uma mudança de hábitos. A falta de
maturidade de alguns conselhos está relacionada ao processo de amadurecimento
empresarial do nosso país e das suas empresas. Apesar disso, os conselheiros
deveriam estar mais atentos aos impactos negativos dessa realidade. Ao
abdicarem do seu papel na ampliação das discussões sobre os desafios, riscos e
possibilidades, relacionados ao futuro dos negócios, eles limitam o
desenvolvimento da capacidade de decisão dos executivos. No entanto, um dos
pontos essenciais é que os conselhos sejam medidos pelo sucesso do time dos executivos
das empresas. Caso contrário, podem estar cegamente contribuindo para
desenvolver empresas frágeis, vulneráveis, limitadas a incapacidade de mudar os
hábitos de quem as governam. Não é fácil para os conselheiros mudarem os
hábitos dos executivos. Que os digam os presidentes de empresas que se reportam
para os conselhos. Quando os conselheiros agem como executivos, criam uma
cadeia de reações, sem responsabilidade direta sobre as consequências que,
usualmente, recaem sobre os gestores. Uma das razões dessa ocorrência é devido
ao fato de que a grande maioria dos conselhos das empresas no Brasil se reúnem
uma vez por mês, enquanto nos países desenvolvidos essa média de sessões é
reduzida, chegando até quatro vezes por ano. Essa maior frequência proporciona
uma presença constante, fazendo com que os conselheiros exerçam uma função
executiva, mas sem estar presente o suficiente para viver os efeitos das
decisões. Essa é um dos principais motivos para que o cargo de conselheiro de
empresa, que representa acionistas e investidores, não seja uma mera ocupação
para executivos se manterem na ativa ou palco para figurões marcarem presença.
É fundamental estar convicto da sua contribuição, para melhorar a governança da
empresa, trazendo um olhar de futuro, além de manter-se preparado para virar a
chave sempre que necessário, saindo do papel de executivo para o de
conselheiro.
Cláudio Sá Leitão - Conselheiro
pelo IBGC e CEO da Sá Leitão Auditores e Consultores.
PUBLICADO
NO JORNAL DO COMMERCIO EM 20.03.2021