“REFORMA TRIBUTÁRIA ATRASADA, PORÉM JUSTA”
Estima-se que
o número de horas aplicadas para pagar os tributos no Brasil, seja superior às demandadas
pelos demais países. Outro dado relevante diz respeito ao valor do contencioso
tributário, o qual é bem elevado, em relação ao resto do mundo. A partir dessas
informações, podemos concluir que a insegurança jurídica está intimamente
ligada à qualidade do sistema tributário nacional, o que, em muitas ocasiões,
levam aqueles contribuintes de boa-fé a recorrer aos tribunais, como única
medida de proteção e de garantia ao seu direito. Diante desse cenário, uma
reforma tributária viria bem a calhar, no sentido de minimizar as distorções em
nosso sistema, particularmente no que se refere à duplicação de tributos, aos questionamentos
jurídicos e às regalias fiscais injustificadas, além de um amontoado de
entraves acumulados ao longo dos anos, que o tornaram uma parafernália de alto
custo e morosidade, com uma das tributações mais complexas do mundo. Como não
há quem queira abrir mão de receita fiscal, os Municípios, os Estados e a União
torcem, para que seja assegurado um equilíbrio na partilha do bolo, de modo que
a reforma tenha caráter global e que haja um comprometimento do governo federal
com a contrapartida. Para que isso ocorra, há a necessidade de que a reforma seja
ampla e que abranja os problemas apontados pela sociedade, apesar de sabermos
que o resultado dela não será uma proposta de consenso, em face de sua
complexidade, mas que pelo menos contemple um modelo mais justo para o País. Um
tópico essencial nessa reforma será a desoneração da folha de pagamento de
salários, cuja discussão ficará para outro momento, em função das eleições
municipais no próximo mês, ocasião em que os parlamentares se recusarão a tocar
neste assunto para não desgastar seus candidatos. Portanto, como o período
eleitoral pode se estender até o fim de novembro (segundo turno) e o Congresso
entrará em recesso a partir de 22 de dezembro, certamente, a reforma tributária
não será votada até o final deste ano, haja vista o tempo exíguo para se
discutir uma proposta que concilie as posições do Executivo e do Legislativo. No
começo de 2021, também, será penoso o caminho para a apreciação da reforma,
pois em fevereiro retornam os trabalhos do legislativo e haverá eleições para a
Presidência da Câmara e para o Senado, bem como a escolha dos integrantes das
comissões. Em suma, ainda que as tratativas para aprovação da reforma
tributária se atrasem, o importante é que ela venha atender aos anseios da
sociedade brasileira, se apresentando com um modelo menos burocrático de
taxação dos contribuintes e que proponha uma carga tributária pautada no
equilíbrio, na simplicidade e na justiça.
Cláudio Sá Leitão – Conselheiro pelo IBGC e CEO da Sá Leitão Auditores e Consultores.
PUBLICADO NO JORNAL DIARIO DE PERNAMBUCO EM
04.11.2020