“SER CONSELHEIRO É HONROSO, MAS TRABALHOSO”
O Conselho de
Administração (CA) é o órgão máximo de governança que tem como objetivo
principal zelar pela visão e pela estratégia da Companhia (Cia). Já se foi o
tempo em que boa parte das Cias ocupava o CA com profissionais de idade
avançada e aposentados, bem como o utilizavam como palco para ilustres figurantes
que marcavam presença nas reuniões por serem amigos de acionistas ou de
investidores. A partir das novas regras de Governança Corporativa (GC), surgiu
uma maior diversidade de perfis, que passaram a exigir dos conselheiros mais experiência
e responsabilidade. Ser conselheiro nesses novos tempos, requer uma postura
mais ativa e comprometida, necessitando uma maior compreensão, por parte dele, quanto
aos riscos inerentes à função, não apenas relacionados com os seus bens
pessoais, como também à sua reputação. Qualquer conduta inadequada da
administração da Cia ou de seus funcionários podem trazer consequências sérias aos
seus Conselheiros, os quais podem ser responsabilizados por ação ou omissão. É
essencial que o Conselheiro seja capaz de compreender os riscos do negócio,
analisar o que lhe for apresentado e ser capaz de identificar as
inconsistências. É inadmissível que ele não esteja apto para a leitura dos
relatórios contábeis e financeiros, seja qual for a sua formação e experiência
profissional. Ao assumir o cargo no CA, o Conselheiro tem a responsabilidade de
zelar pela ética, pela transparência, pela prestação de contas e pela sustentabilidade
do negócio, além dos cuidados com o compliance e com o meio ambiente. Atuar em
um CA pode ser considerado por alguns especialistas como o topo da pirâmide da
vida de um profissional. Afinal, os conselheiros agem e atuam não apenas para “cumprir
tabela”, mas para exercer a função no nível mais alto do poder e de capacidade
de decisão de uma Cia. Essa função requer competência e dedicação. Atualmente, não
há espaço para Conselheiros figurantes e vaidosos, tipo àqueles de novela, com
cabelos brancos e de paletó com colete, que apenas balançam a cabeça e concordam
com tudo. Por isso, ao aceitar um convite, o Conselheiro deve ter conhecimento
das regras básicas da GC, que se tornaram mais rígidas com o tempo, além de não
esquecer da impossibilidade de atuar como executivo, isto é, deve deixar de
lado essa atividade. Lembrando, também, que a avaliação da sua motivação pode
contribuir para melhorar com a GC, mantendo sempre o olhar voltado para o
futuro da Cia. O exercício dessa função de
Conselheiro requer uma atuação da sua atividade com muita dedicação, responsabilidade
e prazer, sempre procurando fazer o melhor, de forma a gerar valor para a Cia. Em
suma, o CA não pode ser tratado como um stand de homenagens, nem tampouco como ambiente
para figurões, pois ao ser convidado para a exercer a função, o Conselheiro
deve se sentir honrado, porém ciente do quanto será trabalhoso. Trata-se de um
cargo que exige envolvimento e comprometimento do Conselheiro, sendo um fórum de
trabalho que traz consigo a obrigatoriedade de cumprir as regras rígidas sobre
a administração da Cia, por parte dos board members. Tudo isso é para se
ter uma Cia. mais sólida, ética e competitiva.
Cláudio Sá
Leitão – Conselheiro pelo IBGC e CEO da Sá Leitão da Auditores e Consultores.
PUBLICADO NO
JORNAL DIARIO DE PERNAMBUCO EM 13.10.2019