"MANIA DE SER HONESTO"

Recentemente, em almoço com dois amigos advogados, num restaurante de um shopping em São Paulo, ouvimos de um casal, na faixa dos 35 anos, que se encontrava atrás de nossa mesa, a seguinte frase: "Você tem que acabar com essa mania de ser honesto". Mudamos o rumo da nossa conversa, até então descontraída, e passamos os três a refletir sobre o que fora dito por aquela mulher.

Será que ser honesto deixou de ser uma qualidade ? Com a "epidemia" de desonestidade que se alastra pelo País, fica a impressão de que a honestidade passou a ser sinônimo de burrice. De tanto ver a desonra, a injustiça e o poder nas mãos dos maus, os brasileiros sentem até vergonha de serem honestos. É fato que no mundo sempre houve gente desonesta. Mas não há como saber se atualmente existem mais desonestos (proporcionalmente) do que no passado. Sem falar que, hoje em dia, há uma divulgação maior das práticas desonestas, em face dos meios de comunicação. O que mais irrita os brasileiros é a impunidade que deixa os corruptos soltos e bem à vontade, seja na esfera pública ou privada, e próximos do poder e do dinheiro. Diante desse cenário, surgem questões conflitantes, como: vale a pena ser honesto? Até que ponto ser chamado ou classificado por desonesto nos incomoda? A honestidade é reflexo de nosso caráter, dos valores e das crenças adquiridos ao longo da vida e que, muitas vezes, foram herdados de nossos antepassados.

Se a justiça brasileira não se mostra capaz de punir os desonestos, a opinião pública deve se manter firme na busca pela revelação das falcatruas. Quando lembro da expressão "Mania de ser honesto", chego a pensar que a honestidade deixou de ser um princípio, a ambição desmedida nos ensina a ser cada vez mais competitivos. Praticamente, nos obrigando a passar por cima de tudo e de todos para alcançar os fins desejados. Apesar disso tudo, fazer o que estiver ao nosso alcance, para se manter íntegro, não pode ser considerado algo anormal. Nossas atitudes devem transmitir clareza e confiança para aqueles que ainda duvidam da honestidade. Fatos corriqueiros, como o ato de devolver ao dono algo encontrado que não nos pertence, contribuem para afastar o estigma nacional da malandragem. Pouco importa se no caminho da honestidade, nos rotulem como "ingênuos".

Bom é colocar a cabeça no travesseiro e sonhar com os nossos objetivos, sem precisar apelar para o "jeitinho brasileiro".

Cláudio Sá Leitão e Luís Cunha - Sócios da Sá Leitão Auditores e Consultores.

PUBLICADO NO JORNAL DO COMMERCIO EM 08.09.2016.